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Editorial

Governo não pode falhar com a ‘geração Covid-19’

escolas na pandemia

O Brasil vive duas crises de grandes proporções. A sanitária é a mais urgente e óbvia, com os números de mortos e infectados em patamares elevados, enquanto a vacinação segue em ritmo aquém do necessário. A outra crise, na área da educação, é silenciosa. Não há contagem diária das perdas, nem estatísticas acompanhadas com afinco. Mas nem por isso é menos prioritária.

Desde o começo da pandemia, o Brasil é destaque na lista das grandes economias que menos ofereceram aulas presenciais a crianças e adolescentes. O ensino remoto foi oferecido com resultados irregulares em diferentes partes do país. Isso acarretou grande defasagem na aprendizagem. Na semana passada, o Insper, instituição de ensino superior com sede em São Paulo, e o Instituto Unibanco, fundação voltada para a área da educação com presença em todo o país, quantificaram o prejuízo desse descalabro.

O estudo “Perda de aprendizagem na pandemia”, liderado pelo economista Ricardo Paes de Barros, estima que o déficit de aprendizagem entre os estudantes na reta final do Ensino Médio nas redes estaduais reduzirá entre R$ 20 mil e R$ 40 mil a renda futura de cada um desses jovens ao longo de suas vidas. Somando os estudantes do Ensino Fundamental e todos os do Médio, a perda já é de R$700 bilhões. Se nada mudar, poderá chegar a R$1,5 trilhão.

Para além do prejuízo meramente financeiro, estão em jogo a qualidade da formação das crianças e, portanto, o futuro do Brasil. A boa notícia é que as perdas podem ser mitigadas, com senso de urgência e foco nas três esferas do governo. O estudo relaciona cinco pontos para melhorar a aprendizagem imediatamente:

1) a permanência dos estudantes na escola por meio de ações de combate ao abandono e à evasão escolar, que têm aumentado;

2) a implementação de políticas que busquem ampliar o acesso e a qualidade do ensino remoto;

3) a promoção de atividades que gerem maior engajamento dos estudantes no ensino remoto;

4) o retorno imediato às atividades presenciais nas escolas, mesmo que inicialmente de forma híbrida;

5) ações para a recuperação e aceleração do aprendizado.

O estudo projeta que, caso as aulas com o ensino híbrido sejam retomas e haja maior engajamento, a perda de aprendizagem dos alunos no terceiro ano do Médio pode ser reduzida em até 20%. Tendo em mente que diferentes setores da população foram afetados de forma distinta, é crucial desenhar uma política pública que responda a vários segmentos. Um foco de atenção devem ser os alunos no último ano do Médio, que não têm muitos meses pela frente para recuperar o tempo perdido até aqui.

Num país com uma desigualdade abissal e histórica, a educação é chave na busca da igualdade de oportunidades para crianças e jovens pobres. Uma mão de obra com déficit educacional é certeza de baixa produtividade e também de um crescimento medíocre do PIB no futuro. Por razões econômicas, sociais e até morais, municípios e estados, sob a orientação do Ministério da Educação, têm o dever de encarar esse desafio como prioridade. 

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